Em Março do ano passado, o artista visual Boris Eldgasen recusou um prémio de Fotografia atribuído pelos “Sony World Photography Awards”. De facto, a imagem sobre a qual tinha sido galardoado resultara de um processo de IAG. Não era uma fotografia; Eldagsen chamou-lhe promptografia. De Prompt: incitamento, provocação.
Adoto o termo para essas imagens graficamente semelhantes a fotografias, e, ainda assim, absolutamente díspares na sua essência e no seu propósito existencial.

A Promptografia, esta parente da Fotografia vinda de local remoto, não é mais (nem menos), que a Fotografia.
É apenas muito, muito diferente. 
Em boa verdade, a novidade sobre a Promptografia foi ontem. Mas penso que vale a pena refletir sobre o assunto:
As promptografias têm origem num estímulo (texto, imagem, imagem/texto) que é fornecido a um algoritmo para a geração de algo. – Aliás esse “algo” pode nem ser uma imagem…
A palavra Fotografia, é bem sabido, tem uma etimologia que remete para aquilo que resulta da incidência da luz sobre um objeto sensível (*)
Então… Nada a ver entre Fotografia e Promptografia. 

(*) A palavra grega "graphos" (γραφή) traduz-se por "escrita" ou "desenho". No contexto da fotografia, faz parte do termo “fotografia”, que provém das palavras gregas “foto” (φως), que significa “luz”, e “graphos”, que significa “escrever” ou “desenhar”. Assim sendo, a fotografia pode ser entendida como “escrever com luz” ou “desenhar com luz”, refletindo o processo pelo qual as imagens são criadas utilizando a luz para captar cenas ou assuntos numa superfície fotossensível. (www.quora.com) 

Vinque-se: Não tenho nenhum preconceito, ou receio, no que respeita à Promptografia. Muito pelo contrário, eu próprio utilizo a Promptografia desde há cerca de dois anos.
Um olhar — ou uma qualquer reflexão que possa levar ao uso de um sistema luz/captor, e assim à formação duma imagem — isso é o que vem antes da Fotografia. É Fotografia. Incluem-se, obviamente todas as imagens analógicas, as fotografias do século passado. Todas: os rayogramas, o pinhole, a cianotipia, o daguerreótipo… Todos os processos usados pela Fotografia, velha senhora com duzentos anos. 

Será Fotografia a imagem gerada pelo sol sobre a pele humana, através do ensombramento?   (Getty Images)

O que leva à Promptografia será um raciocínio, uma ideia – ou uma fantasia… Não há luz, nem material sensível. Esse conhecimento, input, é transmitido a uma máquina, a qual fornece um feedback, que será um novo prompt, repetindo-se o ciclo indefindamente.
O aperfeiçoamento de cada um desses fatores conduz ao objeto final.
Pelo contrário, a Fotografia abrange uma descrição; ou uma narração, seja de um momento fugaz – o snapshot que inunda as redes sociais – uma documentação histórica ou uma recordação de família. Pode ainda gerar imagens completamente abstratas. 
No final, apenas interessa o binómio luz/material sensível.
Uma reportagem fotográfica sobre a revolução francesa de 1789… Uma realidade ficcionada! Uma absoluta mentira; mas poderia constituir um projeto de Promptografia.     (Promptografia. ©️ Jorge Pedra)

A Promptografia remete para uma pseudo-realidade alternativa. Responde a um processo mental, como vimos, e conduz ao falseamento numa forma propositada. No seu melhor, gera uma inverosimilhança.
Perniciosamente, pode fazer-se passar Fotografia. Essa é uma verdade que devemos guardar para sempre. No fim, tudo depende da honestidade.
Fotografia e Promptografia, ambas têm o seu lugar na Arte e na Comunicação. Não tenho dúvida alguma: Não são técnicas “inimigas” nem concorrem entre si. Continuará a haver muitos fotógrafos e artistas da Fotografia. Outros estarão na Promptografia: Não precisarão de saber o que são diafragma ou obturador; e tratarão a Promptografia como merece: Uma técnica, que pode ser uma Arte, mas sempre absolutamente autónoma. A tal parente distante da Fotografia.
A qual existirá sempre; desde há duzentos anos e para todo o futuro mais. 
Profetizo, a atitude de registo da realidade palpável poderá vir a gerar holografias; talvez aconteça já. Mas essa é outra história.
Então, Fotografia e Promptografia só podem confundir-se, no seu propósito e essência, quando a desonestidade da autoria acontece. 
Uma atitude bastante comum que quero repudiar veementemente:
Supôr que uma imagem gerada por IA é muito boa porque parece uma Fotografia… Considero tal pensamento um despropósito. Sem arrogância, quero dizer: Néscio. Mais uma vez: A Promptografia anula-se, e deve envergonhar-se, quando não faz mais do que parecer-se com uma fotografia. abrangendo uma realidade provável. É vão, desesperadamente ridículo, apresentar uma promptografia que contenha, digamos, um perfeito retrato de uma jovem de olhos azuis…

      Promptografias derivadas de prompts elementares          ©️ Jorge Pedra  
Conforme ficou dito acima a propósito do trabalho de Boris Eldagsen, uma promptografia pode passar por fotografia. O contrário também pode acontecer: a imagem “Flamingoone” de Miles Astray foi tomada por Promptografia; na verdade era uma imagem improvável. Mas, de facto, uma fotografia.
“Twin Sisters In Love” - Annika Nordenskiöld, Suécia. Premiado no Ballarat International Foto Biennale, na Austrália. Promptografia

Então a promptografia não supõe sobre o que é provável, nem existe para fazer fotografias que poderiam corresponder a uma realidade. Em vez disso, A promptografia teoriza  sobre o impossível ou muito pouco provável.

Então a promptografia não supõe sobre o que é provável, nem existe para fazer fotografias que poderiam corresponder a uma realidade. Em vez disso, A promptografia teoriza  sobre o impossível ou muito pouco provável.
Mais uma vez, a Promptografia é, à partida, uma técnica; a Fotografia também. Pode ser uma Arte, isso depende sempre da autoria, tal qual como acontece com a Fotografia. As duas andam juntas… mas são opostas, como as duas faces da mesma moeda. Sempre serão antípodas.
É evidente que as promptografias podem servir na geração de outras imagens. O mix media pertence à história da Arte. Acresce a oportunidade da manipulação digital – que acontece também com a fotografia desde há trinta anos.
Promptografias. ©️ Jorge Pedra
Imaginar, antecipar o que pode ser visto, ver sem ver. 

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